por Declev Dib-Ferreira
“Hiiii… ele é o maior filhinho-de-papai!”.
“Ele tem tudo o que quer!”
“Vocês estão estragando esse menino!”
“Tem que educar, mostrar que isso não pode fazer!”
“Dê algum castigo, tire isso ou aquilo dele!”
Ao ouvir essas frases, já imaginamos o tipo de pessoa a quem nos referimos.
Alguém que não está sendo educado pelos pais.
Alguém a quem se dá tudo o que quer, mesmo ele fazendo só o que ele quer.
Alguém que está sendo “mal-educado”.
Alguém que ficará mal acostumado, não sabendo lidar com as vicissitudes da vida.
Alguém que não se importará com os outros, tornando-se egoísta.
Um filhinho-de-papai, na linguagem popular.
Em geral, um filhinho-de-papai não tem limites, não tem normas, não segue regras.
Sei que já é notícia antiga, mas o exemplo serve: na novela “Caminho das Índias”, o personagem Zeca era um garoto classe média não educado pelos pais. Todo mundo na época, acredito, achou um absurdo o fato dos pais dele não conterem suas investidas pitbullísticas e, pior, acharem graça.
O Zeca aprontou em todos os lugares, inclusive na escola (alguém tem algum aluno assim?… rs.).
Ele tacava ovos nos outros pela janela, roubava, inventava histórias incriminando outras pessoas etc.
Pra quem não viu a novela – eu os perdôo e confesso: vi – vão aqui alguns links pra saber do que falo:
Suellen é apedrejada pela turma do Zeca;
Quem quiser mais, faça uma busca no deus google.
Mas eu pergunto: o que estamos fazendo com gerações de crianças e adolescentes, de uns 20-30 anos pra cá?
Estamos dando os mesmos não limites. Ou não dando os limites, o que dá na mesma.
Crianças e adolescentes podem fazer tudo. Sim, podem fazer tudo e não acontece nada. Dá-se de tudo e não se pede nada.
Isso é educação?
Hoje uma criança ou adolescente mata, quebra, rouba, estupra, picha, briga, rasga, esfola, xinga, cospe, chuta, perde, atrapalha, responde, foge, dá, come, faz careta, dá o dedo, faz o que quer e o que fazemos?
Nada.
ECA? Nada. São ininputáveis. Têm todos os direitos e nenhum dever.
E, registre-se, não estou falando simplesmente de diminuir a maioridade penal ou porrada ou expulsão sumária, como simplificam alguns. Estou falando de educar antes de perder qualquer controle ou antes de ser necessário penalizar criminalmente.
Sanções anteriores a cometimentos de atos piores ou mesmo crimes.
E o “crime” principal, no nosso caso, é a escola muitas vezes não funcionar como escola.
Hoje, em uma escola pública – falo de minha realidade, Niterói e – o aluno recebe a escola, o uniforme, os , a , os materiais, a comida, a passagem… recebe tudo.
E o que muitos fazem?
Nada.
Não estudam e atrapalham quem quer estudar.
E ainda por cima matam, quebram, roubam, estupram, picham, brigam, rasgam, esfolam, xingam, cospem, chutam, perdem, atrapalham, respondem, fogem, dão, comem, fazem careta, dão o dedo… e o que fazemos? O que podemos fazer?
Nada.
Simplesmente o forçamos a frequentar a escola. Não precisa estudar nada nada nadica de nada. Basta ir. Pode fazer tudo o que está dito aí em cima com um certo exagero meu. Mas tem que ”ir” à escola.
Crime é não educarmos de verdade (sociedade, escola e responsáveis), ao não darmos os limites que toda criança ou adolescente necessita.
Crime é, com isso, negarmos uma educação de qualidade aos que querem de fato, por acharmos que é “democrático” e “de direito” dar à força àqueles que nada querem.
Aí ninguém tem.
E não me perguntem a resposta para tal impasse, que não a tenho.
Abraços,
Declev Reynier Dib-Ferreira
Professor pensador em constantes dúvidas
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