sábado, 14 de agosto de 2010

Escolas de Magia no Brasil

http://pensotopia.com.br/2010/04/21/escolas-de-magia-no-brasil/

As magias em D&D são agrupadas em categorias chamadas escolas, divididas em vários níveis. Sempre que o mago progride, vai tendo acesso cada vez mais aprofundado sobre aqueles conhecimentos arcanos. É justamente este conhecimento ordenado, disciplinado e meticuloso que torna os magos os mais temíveis inimigos e os mais fantásticos dos heróis.

Tudo isto porque os jogos se baseiam na Europa. Imaginem se fossem baseadas no Brasil. Retorno com um conto bem-humorado que fazia tempos que não escrevia no Pensotopia.

Carlinho era um aprendiz de feiticeiro, cuja mãe trabalhava em uma padaria durante o dia e numa taverna à noite, chegando sempre muuuito tarde. Foi com muito mais que suor, que Cremilda – a mãe de Carlinho – conseguiu juntar algumas peças de ouro para mandar seu filho para ser aprendiz de uma Escola da Magia Pública de Pensotópolis.

A escola era gratuita, mas para quem morava no interior – além das ruínas dos exilados- chegar nela não era tarefa fácil. Carlinho caminhava pelas estradas tortuosas e descobria as vantegens de estar com dinheiro na algibeira. Os orcs que se escondiam no local e ficavam o tempo todo jogando bola com a cabeças dos viajantes, sempre poupavam a vida miserável do garoto, pois ele sempre lhes trazia ouro e lanche.

Sem ouro, maltrapilho e surrado, Carlinho chegava à escola: velha, suja, mas gratuita. A primeira coisa que o menino fazia quando chegava era ir ao refeitório. Ele, no começo, destestava aquela comida que parecia uma geléia ocre, porém descobriu que a geleia ocre era servida no jantar e ficou mais aliviado.

A professora de Necromancia faltou. O de Evocação estava de atestado-clérigo, devido a sérios danos sofridos, após uma emboscada sofrida após as aulas, supostamente por alunos de último ano. Com as duas primeiras aulas vagas, Carlinho ia passar o tempo na biblioteca arcana, um local cheio de tábuas de argila pesadas, onde estavam escritas magias. Os pergaminhos eram muito caros e os livros mais ainda, portanto os estudantes tinha que se virar com as plaquinhas de cerâmica. Boa parte do acervo estava depredado, os alunos costumavam quebrar os feitiços utéis assim que aprendiam ou mesmo quando não conseguiam aprender. As magias mais raras era surrupiadas pelos elfos doméstico, que revendiam-nas para alunos de escolas particulares de magia.

Basicamente, ficar na biblioteca era um pretexto para fugir das aulas, não havia lugar para se concentrar por ali. Soava a magia Alarme, anunciando a terceira aula. O professor de Abjuração era um clérigo que também acumulava a função de professor de Profecia. A titular dessa cadeira , dava aulas em três escolas diferentes e para manter o quarto emprego, pagava ao clérigo para substitui-la.

Hora do lanche. Não havia lanche. Carlinho tentava matar a fome com um poção de cura trazida por um coleguinha da turma. Os ogros da cantina reclamavam que a comida que tinha chegado, já tinha desaparecido, como por mágica. Na sala do Diretor…um cheiro de néctar e ambrosia pairava no ar. Terminado o intervalo, os alunos voltam pra casa. Só alguns mais insistentes – como Carlinho- decidem continuar a assistir as últimas aulas do período. “Só porque a escola não tem água no fosso, não quer dizer que precisemos ir pra casa, antes da última aula”, dizia ele.

4ª Aula, Conjuração/Convocação.

O caso do professor de Conjuração era ainda mais absurd. Guerreiro veterano, já tinha visto muitos magos convocarem estranhas criaturas para enfrentá-lo. Por causa disto, se considerava um expert em magias de convocação, não através do estudo arcano e sim pela experiência. Passava o tempo todo contando como matava os monstros, mas nada dizia como trazê-los para o campo de batalha. O diretor sabia que o professor não era um mago de verdade, os alunos sabiam que não era um mago de verdade, os colegas professores sabiam que o guerreiro não era um mago de verdade. Até o Conselho de Magia sabia da verdade, mas preferiam ter alguém do que ficar sem professor na sala. Como fazia vinte anos que não era realizada nenhuma seleção para Arcano Efetivo, o Conselho preferia fazer vista grossa para esses pequenos incidentes.

O professor de Encantamento/Feitiço, um jovem de manto vermelho, barba grande e dedo em riste, estava no pátio conclamando os alunos e professores para paralisarem suas atividades em buscas de melhores laboratórios, grimórios e recursos para continuarem suas pesquisas. A professora temporária de Transmutação, se transmutou em pássaro exótico e voou para a sala do diretor, sugerindo que ele mandasse mensagem para o Conselho de Magia comunicando o futuro motim. A professora estava lá, graças a um parente trabalhando no Conselho de Magia e recebia alguns gratificações devido a um caso que ela tinha com o Diretor. Nem adiantava ela se metamorfosear para entrar na diretoria, todos conheciam o requebrar de galinha dela… em qualquer forma.

6ª Aula

O professor de Ilusão passava a aula toda paquerando as meninas e soltando piadas. Sua aula era mesmo uma ilusão, mas no fim todos tiravam notas boas era o que se dizia, por isso ninguém se importava.

Hora do Almoço

A escola deveria ser em tempo integral, mas na prática aquilo não funcionava. A parte vespertina servia para os alunos tirarem dúvidas com os monitores e a para as aulas de Educação Psíquica. Carlinho tinha que caçar a sua própria comida. Alguns ex-alunos que freqüentavam a escola arranjavam um pouco de almoço, se Carlinho fizesse algumas entregas para eles: uns saquinhos com pó-mágico (que servia tanto para levitar, como fazer viagens astrais). Era graças a “bondade” daqueles ex-alunos, que Carlinho tinha forças de ficar à tarde.

Os monitores apelidavam Carlinho de “o traça-de-livro”. Em geral, ele era o único que ia lá às tardes, para tirar dúvidas, mas nem sempre os monitores faziam direito a tarefa. Ao invés de passarem magias de conjuração, feitiço ou evocações para ele praticarar, ficavam apenas ensinando alguns truques, para gastar tempo.

Nos treinos de Educação Psíquica a coisa apertava. Um professor rigoroso obrigava todos darem 20 voltas mentais no universo, erguer pesos de 50 etereons e mergulharem nas profundezas dos próprios traumas de darem 100 braçadas nelas.

No tempo livre, Carlinho ainda podia visitar as eternas futuras instalações do Labortarório de Poções, prometido desde a última Era. E também meditar na sala de meditação, antigo banheiro dos elfos domésticos, que misteriosamente conseguiram instalações melhores. Dentro do banheiro foi onde encontrou uma velha vassoura voadora, com a qual podia voltar para casa, sem ter que passar pelos orcs de novo.

Carlinho não tinha tido aulas de conhecimento dos monstros. Carlinho não sabia que dragões podiam voar. Carlinho foi um alvo fácil para os dragões. Ao ser pego, o lagartos gigante lhe falou:

- Eu poderia comê-lo insignificante criatura, mas que tipo de monstro terrível eu seria se você fosse libertado desta forma. Seu castigo é ter que ir para escola, para você estudar bastante e se tornar um mago. Porém, se você abandonar os estudos eu destruirei a sua aldeia!

E o pobre Carlinho respondeu:

- Mas por que você quer que estude?

E o dragão respondeu:

- Porque quanto mais magos se formarem nela, mais fácil será de dominar seu reino no futuro. E se você ficar andando pelas ruas, poderá se tornar um poderoso guerreiro sem instrução.

Carlinho, sem escolhas, decidiu fazer o que o dragão mandou. Aos trancos e barrancos, depois de greves, decapitação dos revoltosos pela milícia dos rei, falta de grimórios e varinhas, cajados e bastões, ele concluiu tudo. Voltou para casa com o seu diploma, mas sem saber usar uma bola de fogo. Carlinho, temendo as palavras do dragão que o capturara a muito tempo atrás, começou a sentir medo e angústia, só encontrando a paz no Templo da esquina. Carlinho passou a trabalhar de ajudante de padeiro na mesma padaria que sua mãe trabalhava, ajudando a acender o fogo com magia. Todo fim do mês, o dízimo do que ele ganhava, uma moeda de ouro, ia para os cofres do templo, que já se preparava para abrir uma nova filial.

O plano do Dragão estava sendo executado perfeitamente.

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