quinta-feira, 30 de julho de 2009

Heróis Brasileiros. Eles existem?

*Por Tomaz Passamani

Heróis Brasileiros. Eles existem?Herói é o “homem extraordinário por seus feitos guerreiros, seu valor ou sua magnanimidade”. Baseado na definição de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, julgo-me habilitado a responder: Sim, eles existem. Porém, logo surgem outras questões: Quem são? Onde estão?Enquanto pessoas de caráter duvidoso são apresentadas na “telinha mágica” como “personalidades” e são idolatradas, muitos brasileiros valorosos seguem sua jornada diária, com ética e trabalho árduo, nas mais variadas profissões, lutando pelo bem comum, longe dos holofotes da grande mídia.Os professores abrem nossos olhos para o mundo. Eles nos transmitem curiosidade e confiança. Eles nos ensinam a fazer perguntas. Ele nos conectam com nosso passado e futuro. São os guardiães de nosso legado social. Temos muitos heróis atualmente – esportistas, cantores, personalidades da mídia. Eles surgem, têm seus quinze minutos de fama, e se vão. Mas a influência de um bom professor fica conosco. São eles as pessoas que realmente moldam nossa vida.Os professores são heróis anónimos. Trabalham muito, ganham pouco. Semeiam sonhos numa sociedade que perdeu a sua capacidade de sonhar.

* Professor e Vice-presidente do Movimento Educacionista do Brasil - MEB

domingo, 26 de julho de 2009

Entrevista com Maria Rachel Coelho, presidente do Movimento Educacionista do Brasil - MEB

http://cbn.globoradio.globo.com/programas/revista-cbn/2009/07/26/MODELO-DE-ESCOLA-SEM-DESCULPAS-MOSTRA-QUE-E-POSSIVEL-RECUPERAR-CRIANCAS-DE-BAIXO-NIV.htm

Revista CBN
Modelo de 'escola sem desculpas' mostra que é possível recuperar crianças de baixo nível socioeconômico


Entrevista com Maria Rachel Coelho, presidente do Movimento Educacionista do Brasil - MEB

sábado, 25 de julho de 2009

Estado laico exige escola laica

http://www.direitoshumanos.etc.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2951:estado-laico-exige-escola-laica&catid=19:civil&Itemid=161

Estado laico exige escola laica

Ter, 14 de Julho de 2009 07:25
Editorial do jornal Correio Braziliense - 14/7/2009

Num país em que impera o pluralismo confessional, nada mais incoerente que oferecer ensino religioso nas escolas públicas. A primeira questão que se propõe é a escolha do credo a ser ministrado. Seja qual for, o eleito terá a marca do autoritarismo. Com razão, os seguidores das religiões preteridas protestarão. Embora não sejam forçados a frequentar as aulas do culto ofertado, os alunos poderão, em nome da isonomia, exigir o mesmo privilégio.

Outra contradição reside no fato de o Estado brasileiro ser laico. A laicidade significa que nenhum dos conceitos admitidos em confissões espirituais pode fazer parte das regras de estruturação dos poderes estatais. Segue daí que não cabe ao governo ordenar seja ministrado ensino para formação religiosa de estudantes. Não quer dizer que as instituições da rede privada, por decisão própria, abram mão da possibilidade de estudos da matéria. Nesse sentido, não há nem aprovação nem proibição. Apenas se trata de tema alheio à competência do Estado.

Parece, pois, na contramão o acordo firmado pelo Brasil com o Vaticano que versa, entre outros itens, do ensino religioso nos colégios públicos. A controversa matéria precisa passar pelo crivo do Congresso. Será, então, a oportunidade de deixar clara a separação Igreja-Estado. A decisão servirá de prova do respeito que merecem os seguidores de Jesus, Maomé, Buda, Xangô ou os não adeptos de nenhum deus.

O Estado brasileiro deve pautar-se pela neutralidade. Não importa se os governantes são católicos, protestantes, ateus, umbandistas, agnósticos, comunistas ou nenhuma coisa nem outra. Não importa também o peso que tem na comunidade determinado grupo religioso. A fé é de ordem pessoal e privada. Todos podem fazer pregações em casa ou nas relações pessoais. Nos assuntos públicos — municipais, estaduais, nacionais ou internacionais — o proselitismo não pode ter vez. Só a sociedade como um todo conta.

A tolerância religiosa é marca do Brasil. Aqui diferentes credos convivem em harmonia. Pais que querem dar orientação religiosa aos filhos na escola, encontrarão variadas ofertas. Graças ao pluralismo confessional, católicos, judeus, protestantes, muçulmanos, budistas têm acesso às unidades de preparação escolar segundo as inclinações perseguidas pela família. Ignorar a separação Igreja-Estado é retrocesso. Volta-se ao Império 120 anos depois da Proclamação da República.

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http://www.direitoshumanos.etc.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2950:entrelinhas-do-texto-podem-ressuscitar-privilegios-a-igreja-catolica&catid=19:civil&Itemid=161

Entrelinhas do texto podem ressuscitar privilégios à Igreja Católica

Ter, 14 de Julho de 2009 07:24
Parábolas do acordo - Acerto entre governo e Vaticano confunde deputados, que voltam a analisar o tema hoje. Entrelinhas do texto podem ressuscitar privilégios à Igreja Católica

* Renata Mariz - Correio Braziliense

Os 20 artigos que compõem um acordo firmado entre Brasil e Vaticano têm deixado os parlamentares da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados de cabelo em pé. Com a difícil incumbência de analisar o texto, os integrantes do colegiado decidiram retomar hoje as discussões iniciadas na terça-feira passada em audiência pública. Ainda confusos sobre o objetivo do acordo e no que diz respeito a eventuais armadilhas da redação, a tendência é que os deputados peçam mais tempo para analisar o documento, que tramita em regime de urgência. Especialistas ouvidos pelo Correio, na terceira e última reportagem da série sobre ensino religioso no país, demonstraram preocupação com as entrelinhas da matéria, especialmente com um ou outro privilégio que possa ser retomado pela Igreja Católica.

“Sempre defendi que seria melhor não ratificar, em consonância com a tradição republicana, democrática, para que o Estado continue na linha laica”, afirma Aldir Soriano, membro da Comissão de Direito e Liberdade Religiosa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em São Paulo. Os artigos relacionados a isenções fiscais são os que mais chamam a atenção do especialista. “Veja que a imunidade tributária para as igrejas já existe na Constituição Federal. Mas ao equiparar a pessoa jurídica a entidades filantrópicas, abre uma condição para eventual ampliação dessa imunidade”, destaca Soriano. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi procurada pela reportagem mas não respondeu.

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) também não atendeu o pedido de entrevista feito pela reportagem. Um representante da pasta, que esteve na comissão, disse, durante a audiência pública, que o acordo não altera em nada a relação já vigente entre o governo e a Igreja Católica. “Tudo que está aqui figura na legislação brasileira”, afirmou Cláudio Lins, do MRE, aos deputados. De acordo com Lins, o documento apenas reforça o que a Constituição Federal prevê. “Não cria nenhuma novidade”, destacou.

Na contramão desse raciocínio, Roseli Fischmann, doutora em filosofia da educação e pesquisadora da Universidade de São Paulo, defende a inconstitucionalidade do acordo. “Nosso artigo 19 impede aliança de qualquer tipo com religião. Como o Vaticano é um Estado que representa uma religião, a católica, esse acordo viola a laicidade do Brasil”, critica. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) também se mostrou preocupado. “Sabemos que, dentro de qualquer religião, há o perigo do charlatanismo. Me pergunto se essa questão da imunidade fiscal não pode abrir espaço para mais charlatães.”

Roberto Leão, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), também destaca sua insatisfação com o acordo. “Da forma como está, é pior que nossa legislação atual porque dá espaço ao proselitismo”, diz Leão. Gabeira ressalta a necessidade de dirimir todas as dúvidas antes de votar o acordo. Da Comissão de Relações Exteriores, a matéria segue para o plenário da Casa.

O texto do acordo entre Brasil e Vaticano foi assinado em 2008, mas negociado desde 2006. A versão original do documento proposto pelo país sede da Igreja Católica sofreu alterações nos dois anos de conversas com o Brasil sem que houvesse um debate com a sociedade. Foi mantido em sigilo até a cerimônia de assinatura, em Roma, que ocorreu a portas fechadas. Outros países de maioria católica já fecharam acordos semelhantes com o Vaticano. O Brasil era considerado prioritário, em virtude do tamanho da população. Tanto é que, na visita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ao papa Bento 16, dias depois de o acordo ser fechado, o pontífice fez questão de agradecer pessoalmente a Lula.

Ouça os especialistas Cláudio Lins e Roseli Fischmann explicando o acordo entre Brasil e Vaticano

http://www.correiobraziliense.com.br/page/215/podcast.shtml#video_20552

Eu acho...

David Sousa,
19 anos, estudante

“Não vejo problema algum nesse acordo. Até porque a Igreja Católica já tem mesmo algumas vantagens em relação às outras por ser a mais antiga e com mais seguidores. Então esse acordo não vai mudar nada na prática.”

Ana Cristina Ribeiro,
25 anos, padeira

“Se for fazer com uma, o governo vai ter que fazer com todas as religiões. Caso contrário, vamos ter problemas. Só a atenção que o Vaticano tem da mídia já é uma grande vantagem em relação às outras crenças. Tudo que acontece lá vira notícia no mundo inteiro.”

As principais polêmicas

* Imunidade tributária
O acordo diz que as pessoas jurídicas eclesiásticas (arquidioceses, dioceses, prelazias etc) — assim como suas rendas, patrimônios e serviços — terão garantia de imunidade tributária referente aos impostos. Se exercerem atividade social e educacional, afirma o texto, serão equiparadas a entidades filantrópicas. Defensores do acordo dizem que a garantia de isenção fiscal, bem como a equiparação com entidades filantrópicas, já está na Constituição Federal, tanto para a Igreja Católica quanto para as outras religiões. O temor dos contrários ao acordo é que, ao equiparar as pessoas jurídicas eclesiásticas a entidades filantrópicas, o texto dê margem para ampliação da imunidade tributária no país.

* Ensino religioso
No artigo 11, o acordo estabelece que o ensino religioso, “católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa”, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental. A Constituição Federal já determina a oferta obrigatória mas de matrícula opcional por parte do aluno, mas não denomina nenhuma crença. Enquanto os favoráveis sustentam que nada muda, especialistas apontam que a redação abre espaço ao proselitismo, ao denominar uma crença. Apontam, ainda, uma dificuldade de cumprir na prática, em sala de aula, o “respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil” mencionado no fim do artigo.

* Bens da Igreja
O acordo determina que o Brasil assegurará “as medidas necessárias para garantir a proteção dos lugares de culto da Igreja Católica e de suas liturgias, símbolos, imagens e objetos cultuais”. Quem defende que o Brasil ratifique o acordo alega que essa parceria na proteção dos bens da Igreja já ocorre, com a participação de entidades especializadas no assunto, tais como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Para os menos crédulos, é preciso saber se isso representará gastos para o Estado e de quanto.

* Direitos trabalhistas
O artigo 16 do texto determina que ministros ordenados ou fiéis consagrados mediante voto não têm relação trabalhista com as dioceses e demais institutos religiosos. O artigo visa diminuir as reclamações trabalhistas de ex-religiosos cada vez mais comuns na Justiça. Para os favoráveis ao acordo, a redação só reforça o que já está previsto em leis: o não vínculo trabalhista entre a Igreja e seus ordenados. Mas para quem condena o acordo, tal artigo abre brechas para exploração de mão de obra por parte a Igreja Católica.

* Ajustes adicionais
O antepenúltimo artigo do documento diz que o acordo “poderá ser complementado por ajustes concluídos entre as partes” e determina que Brasil e Vaticano “poderão celebrar convênio sobre matérias específicas”. Tudo que for adicionado ao acordo, segundo quem o apoia, passará pelos trâmites oficiais, nada será feito à revelia das leis do país. Mas a explicação não tem convencido os parlamentares que se mostram contrários desde que o tema chegou ao Congresso Nacional.

O QUE É O EDUCACIONISMO-MEBIANO

Foto: Senador Cristovam Buarque aderindo ao MEB como membro-fundador

O que é o Educacionismo-Mebiano

* Por Maria Rachel Coelho

Acabei de chegar de Brasília e resolvi escrever este artigo para esclarecer alguns mal-entendidos. As pessoas estão confusas e não estão entendendo qual a proposta do MEB. Inicialmente, cabe ressaltar que o termo "educacionismo" é um termo cunhado ainda no século XIX, para designar os adeptos da "transformação social" através da "educação", que substituiria a ação política. É uma das características do anarco-comunismo de Piotr Kropotkin (1842-1921).

No Brasil, o primeiro a falar de Educacionismo foi o professor Sílvio Gallo, em O Paradigma Anarquista em Educação e também em Educação Libertária. Gallo é filósofo e professor da UNICAMP.

O termo Educacionismo também está relacionado ao escritor e político mexicano Justo Sierra (1848-1912), cujas idéias e iniciativas na vida educacional do seu país foram marcantes para a época. Fiel aos ideais liberais e positivistas, lutou por uma educação primária de caráter nacional, laica e gratuita; preocupou-se com a formação e valorização dos docentes; foi um dos principais criadores da Universidade Nacional Mexicana. Acreditava na educação como fator de crescimento econômico e de aperfeiçoamento da vida social.

Como todos podem ver, o termo tem a sua história.

Provavelmente, Cristovam Buarque, leitor voraz, já os conhecia, e procurou recuperar, recontextualizar (repolitizar) a palavra. Logo após sua campanha presidencial em 2006 encontrou um grupo que inicialmente começou com Ney Bravo, de São Paulo, e o Luis Afonso, do Rio Grande do Sul, que começaram a trabalhar por esse ideal.

Eu cheguei logo depois, e trouxe comigo o Professor Tomaz, da Paraíba; o Ricardo Menezes, do Mato Grosso do Sul; o Professor Belém do Amazonas; o Junior de São Paulo; o Professor Francisco de Pernambuco e inúmeros educacionistas que acreditaram nessa causa. Mas tínhamos um grande problema pela frente: como nos organizarmos para realizarmos esse sonho, já que para nós, hoje, educacionistas-mebianos, a causa educacionista consiste também em tomar as medidas necessárias para que todas as crianças iniciem cedo sua caminhada escolar (a partir dos quatro anos de idade), aprendam limites, valores e que as recompensas venham não pelo caminho fácil, dos “jeitinho” que compra atalhos, mas pelo mérito; que encontrem salas de aulas disponíveis e com pleno potencial de aproveitamento de recursos pedagógicos e tecnológicos; que os professores se preparem bem, sejam bem remunerados, vocacionados e consequentemente não se ressintam em ser cobrados após serem valorizados; que possam contar com diretores de escola disponíveis, entusiastas e agregadores de parcerias pelo bem da escola; e que possam contar com gestores públicos que pensem em políticas públicas que envolvam as famílias no processo educativo, assim como acontece em países como a Inglaterra.

Os desafios são muitos. O maior como sempre é colocar nossa criatividade à prova para obter recursos para nossa empreitada de forma ética e transparente.

No “Movimento Educacionista – dos assessores de Cristovam” não se sabe para onde e tampouco em que é aplicado? Quando nos reunimos com o próprio Senador e propusemos institucionalizar o Movimento, tivemos uma forte resistência de alguns assessores de Cristovam, que se achavam donos do Movimento. Com muita facilidade, pois com o poder nas mãos, boicotavam nossas notícias, monopolizavam nosso jornal e blogs e lamentavelmente até baniram alguns de nossos coordenadores de uma Rede que foi construída com o trabalho de todos.

Coincidência ou não, depois que Cristovam desistiu de sua candidatura a Presidência em 2010, e não teve como levar adiante a candidatura à Unesco, embora tenha adorado a idéia e aderido ao MEB, perdeu o interesse em nos acompanhar. Foi, então, que o grupo decepcionado, magoado e se sentindo usado teve mais entusiasmo ainda.

Ele reafirma que continua com a gente. Ainda esta semana se mostrou feliz de termos organizado o MEB e de não pararmos de crescer. Segundo ele: ...”só assim o Movimento sobreviverá, quando eu morrer”...
E nós não paramos. Não somos movidos a cargos mas sim por uma imensa paixão. Estamos enlouquecidos com tantas adesões e envio de projetos de educacionistas-mebianos de todo o país. Porque aí está a grande diferença.

O projeto dos assessores do senador – Movimento Educacionista-Senado- visa apenas a reeleição de Cristovam para o senado e assim seus cargos por mais 8 anos.
Contudo, nosso propósito é maior, não se restringe a isso. Embora o custo seja bem elevado para o povo, vale a pena ter Cristovam no Senado, diria até que é necessário. Suas palavras ditas em plenários vazios, ou para construir imagem, não importa, são orgulho para todos nós. Mas queremos mudar a realidade, somos Mebianos porque queremos trabalhar essa causa. Somos Mebianos porque acreditamos em todos esses discursos, mas pensamos que até mesmo para continuar a divulgá-los temos que mostrar que isso é possível. E o Educacionismo é possível. Disso, nós não temos a menor dúvida.

* Professora Universitária e Diretora-Presidenta do Movimento Educacionista do Brasil - MEB

Nosso site entra no ar dia 12 de agosto

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Quem foi Piotr Kropotkin, “Pai do Educacionismo”

Quem foi Piotr Kropotkin, “Pai do Educacionismo”

* Por Maria Rachel Coelho



O geógrafo, anarquista, e criador do educacionismo Piotr Kropotkin viveu de 1842 a 1921. Piotr é referência obrigatória no movimento anarquista internacional, não só por ter lançado em suas obras os fundamentos básicos de grande parte do ideário que iria nortear a história do anarquismo em seus desenvolvimentos subseqüentes, mas também pela dedicação integral de sua vida à causa da Revolução Social As idéias de Kropotkin têm como núcleo que somente educando-se intelectual e moralmente o povo este emanciparia-se, e evoluiria-se para o comunismo.

O anarquismo é – em termos gerais – uma doutrina de crítica da sociedade capitalista, visando sempre sua transformação e buscando a liberdade individual sem desprezar o social. A etimologia da palavra Anarquismo vem do grego “anarchos” que quer dizer “sem governo”, ou seja, uma ideologia que tem como pressuposto a idéia de inexistência de
qualquer tipo de governo ou poder. Para os anarquistas as instituições governamentais são intrinsecamente injustas e autoritárias o que as tornam prejudiciais à sociedade. Portanto, os anarquistas crêem que o Estado é desnecessário, existindo outras formas alternativas e viáveis para a organização da sociedade.

Em termos históricos “Anarquia” e “Anarquista” aparecerem de forma mais presente durante a Revolução Francesa, no entanto com um sentido de crítica negativa e até de
insulto, onde elementos de vários partidos usavam estes termos para difamar seus oponentes, geralmente pessoas de esquerda (WOODCOCK, 2002). Esta conotação
negativa da palavra prevalece até hoje na linguagem popular. Contra esta deturpação do anarquismo que aconteceu durante a Revolução Francesa temos os ensinamentos de Kropotkin que diz que o anarquismo tem suas raízes na Idade da Pedra quando o homem começou a viver em sociedade, pois para ele o instinto de justiça, de cooperação e de liberdade é um instinto natural do ser humano. O autor na verdade, procurou as raízes do anarquismo não nos filósofos, mas na massa anônima do povo.

É fundamental entender também que dentro da doutrina Anarquista existem muitas variantes, as principais são: o anarquismo individualista; o anarquismo mutualista; o anarquismo coletivista; O anarquismo comunista ou revisionismo educacionista: Aqui está o núcleo central de todos os problemas, desvios e deformações que a idéia do comunismo traz ao revisionismo-educacionista. No comunismo não há regulação social da economia, o indivíduo é o soberano absoluto na produção e na distribuição dos bens materiais, tudo girando em torno de sua necessidade. É importante ficar claro que a “necessidade” é algo absolutamente subjetivo e arbitrário, ou seja, enquanto um homem pode ter a “necessidade” de viver e consumir com simplicidade um outro pode ter a “necessidade” de ter tudo a toda hora e, de acordo com o comunismo, nada pode se interpor a esta “necessidade” individual já que ela é o centro em torno do qual gira a própria sociedade. Tamanho absurdo encontra uma solução autoritária e mecanicista na teoria marxista: a ditadura do Estado Popular se encarrega de condicionar moralmente as massas e de desenvolver ao infinito as forças produtivas com vistas a atingir uma abundância permanente. Já com Kropotkin e seus seguidores se vai cair no educacionismo, no evolucionismo cientificista e no flerte com o liberalismo. Kropotkin entende que o comunismo exige um adequada preparação moral das massas para que as “necessidades” de uns não se oponham às “necessidades” dos outros e façam ruir esta verdadeira “cidadela de anjos”. Assim sendo, de maneira extremamente coerente, Kropotkin assume uma linha política condizente com o evolucionismo biológico que já vinha sistematizando como núcleo de sua elaboração intelectual relativa à história das sociedades humanas. Para Kropotkin, a humanidade evoluía inexoravelmente rumo a formas elevas de apoio mútuo e neste processo evolutivo (que guardaria semelhanças com aquele de animais sociais como as formigas e as abelhas) tendia a romper com as estruturas sociais opressivas tais como a dominação burguesa. Desta maneira caberia aos “anarquistas-educacionistas kropotkinianos” agir de maneira a esclarecer e a educar intelectual e moralmente as massas no sentido de avançar o processo evolutivo que levaria à consolidação do comunismo. Assim e naturalmente Kropotkin e seus seguidores tenderam a se afastar do movimento operário e se aproximar da intelectualidade burguesa no sentido de convencê-la a trabalhar no sentido de educar moralmente as “massas ignorantes” de proletários, como afirma Kropotkin neste trecho:

“não tardei em reconhecer que não se produziria nenhuma revolução, pacífica ou violenta, enquanto as novas idéias e o novo ideal não tivessem penetrado profundamente na própria classe cujos privilégios econômicos e políticos estavam ameaçados”.
Eis aqui claramente o nível de profundidade da revisão liderada por Kropotkin com relação aos pressupostos desenvolvidos por Bakunin. Ao invés do anti-cientificismo de Bakunin, eis o evolucionismo biológico enquanto matriz teórica. Ao invés do método analítico e político materialista tal como formulado por Bakunin, eis o idealismo analítico e o educacionismo enquanto prática. Ao invés do classismo intransigente e revolucionário de Bakunin, eis a burguesia assumindo o papel de conduzir o proletariado a sua elevação moral. Estas deformações vão conduzir a outras no plano prático. A idéia de organização vai ser violentamente atacada pelos kropotknianos em perfeita concordância com seus pressupostos teóricos. Se a sociedade comunista é aquela em que o indivíduo e suas “necessidades” sujeitam o conjunto da sociedade, porque então o indivíduo que se educa hoje moralmente para este futuro deveria “castrar-se” frente as necessidades organizativas coletivas que diferem das suas individuais. É desta maneira que vai ganhar fôlego um agressivo individualismo anti-organizativo entre os kropotkinianos, e é deste meio que vai sair o resgate do liberal Max Stirner que até então era um absoluto desconhecido autor do passado.

O revisionismo educacionista ou anarco comunismo tem princípios muito próximos do anarquismo coletivista de Bakunin, diferenciando-se no modo de distribuição das riquezas produzidas, logo que sua máxima é: “de cada um de acordo com suas possibilidades e a cada um de acordo com as suas necessidades”. Piotr seu idealizador, entendia que era necessário, como alicerce desta proposta, a total expropriação dos bens da humanidade, já que compreendia ser impossível medir a contribuição de cada um no processo histórico da humanidade, censurava também qualquer tipo de governo ou representatividade.
Kropotkin era russo de família rica. Na sua biografia destaca-se o fato de que na Internacional ficou ao lado dos que apoiavam a facção de Bakunin (apesar das diferenças teóricas.
É importante perceber que no interior das formulações de Bakunin são centrais as idéias do 1) Anti-cientificismo (defesa da ciência mas recusa de seu papel dirigente na sociedade);
2) materialismo enquanto método analítico e político (uma recusa profunda de todo “educacionismo”): “Eu gosto muito desses socialistas burgueses que nos gritam sempre: ‘ Instruamos primeiro o povo e depois o emancipemos’. Pelo contrário nós dizemos: Ele que se emancipe primeiro e se instruirá ele próprio” ) portanto contra as idéias de Marx, oficializando assim as diferenças em relação ao pensamento deste intelectual. Como todo filósofo com idéias distintas em relação aos demais de sua época não teve o devido reconhecimento, ficando à margem do pensamento hegemônico (de esquerda) da época, principalmente o geográfico. Portanto, resgatar as obras de Kropotkin se faz muito importante pelo conteúdo de crítica radical que contém e também por acreditarmos que muitos de seus ideais continuam necessários e vivos na atualidade.

Acredita-se que a originalidade do pensamento de Kropotkin o tornou o principal responsável pela mudança da teoria anarquista, depois dele o anarquismo se tornou uma “teoria séria e idealista de transformação social, e não mais uma doutrina de violência de classes e de destruição indiscriminada".

A base de construção de sua teoria vem de sua experiência no governo dos Czares, experiência que nele despertou o horror pelo governo autocrático e a decepção com a indiferença e a corrupção daqueles que representavam o Estado. Por outro lado, mostrou-se impressionado com o sucesso de colonização em bases cooperativas de exilados na Sibéria. “Comecei a apreciar a diferença que existe entre a ação baseada no princípio do comando e da disciplina e na ação baseada no princípio do entendimento mútuo” .
Sua contribuição como geógrafo baseia-se principalmente nas 50 mil milhas que viajou pelo Oriente elaborando teorias sobre a estrutura das cadeias de montanhas e platôs da Ásia Oriental, articulando estes conhecimentos com a discussão sobre a grande seca que levou povos da Ásia Oriental a migrarem para o ocidente provocando invasões bárbaras na Europa e no Oriente. Foi também um dos colaboradores da Enciclopédia Britânica. Como fruto destas expedições recebeu convite para assumir a Sociedade Geográfica Russa, mas recusou o convite por pensar que havia coisas mais importantes a se fazer naquele momento como, por exemplo, “lutar por uma sociedade mais justa”. Em 1878 funda o Jornal Le Révolté que se tornaria o mais influente dos jornais anarquistas.
Dentre as suas principais obras destacam-se: “Palavras de um Revoltado”, publicado com a ajuda de Elisée Reclus (que também era geógrafo e anarquista), em 1885. O livro trata da incapacidade dos governos revolucionários, para ele: “Nada se faz de bom e durável senão pela iniciativa do povo, e todo poder tende a matá-la” (KROPOTKIN, 2005, p.10). Faz critica contumaz aos socialistas dizendo que estes estão mais preocupados com a burocracia, enquanto os anarquistas estão mais preocupados com a prática da igualdade. Diz ainda que atos de protestos e revoltas fazem mais propagandas do que milhares de brochuras: “Basta de leis, basta de juizes! A liberdade, a igualdade e a prática da solidariedade são o único dique eficaz que podemos opor aos instintos anti-sociais de alguns de nós” (KROPOTKIN, 2005, p. 11).
No Livro “A conquista do Pão”, publicado em Paris no ano de 1892, é onde Kropotkin desenvolve mais explicitamente a teoria do anarquismo comunista. Nele reúne artigos escritos nos últimos dez anos, onde aborda vários temas da vida cotidiana e problemas sociais que sofria o povo naquele momento - e alguns até hoje – propondo soluções pensadas para um mundo onde a produção seria para o consumo e não para o lucro. Ele acreditava não se tratar de uma visão de sociedade utópica, mas sim uma discussão presente das razões científicas e históricas dos problemas que afligem a humanidade e da sua superação. Acreditava fundamentalmente que é necessário criar comunas (unidades mais próximas ao povo para suas preocupações imediatas), sendo que estas comunas não seriam impostas por um governo e sim fruto de uma união voluntária: “pela união das outras comunas produzem uma rede de cooperação que substitui o Estado”.
Certamente seu Livro “A ajuda mútua”, publicado em 1902, é o mais conhecido e surge como resposta aos neo-darwinistas que transportaram para o campo social as idéias naturalistas da obra de Darwin como forma de legitimar o imperialismo de países europeus. Na época. Kropotkin refuta as idéias dos neo-darwinistas defendendo que a ajuda mútua é mais importante para evolução das espécies, pois ela é instintiva e esta presente em todos os seres vivos, sendo ela a responsável pela sobrevivência e proteção dos mais fracos. E que embora força, rapidez, astúcia, cores e peles – mencionadas por Darwin como qualidades que tornam os indivíduos mais aptos – sejam importantes, a sociabilidade é a maior vantagem na luta pela vida. É o que podemos ver inclusive na vida humana ainda que no capitalismo, pois se não fosse a sociabilidade humana (mesmo que seja alienada) nós não teríamos o conhecimento, as tecnologias e os benefícios historicamente produzidos pelo homem. Kropotkin escreve que a solidariedade é uma qualidade inerente ao ser humano, e que nem as instituições coercivas como o Estado conseguiram acabar com a cooperação voluntária.

Os últimos dias de sua vida foram dedicados a divulgação de seus ideais, morre em 8 de Fevereiro de 1921 pregando que sua maior contribuição foi dar abordagem científica aos ideais anarquistas. Na visão de Woodcock (2002), sua maior contribuição foi promover a humanização do anarquismo e estabelecer uma relação entre teoria e a prática.


Acreditamos que para haver uma verdadeira mudança na sociedade atual o caminho a se seguir é o da crítica radical, é por meio dela que podemos desmistificar e quebrar princípios arraigados na nossa sociedade como, por exemplo, o de se confiar na representatividade política, delegando o poder a outros.
Como ensina Kropotkin, isto acaba com o espírito de ajuda mútua entre os homens, que já não se vêem como participantes e atuantes na sociedade, deixando sempre para que outros façam a melhoria e o desenvolvimento da sociedade. É preciso pensar que por meio de relações mais simétricas podemos construir um desenvolvimento mais humanitário, logo menos material.

Entendemos que os ideais de Kropotkin têm eco entre nós. Neste sentido, é interessante lembrar que ele pregava o ideal de expropriação dos bens da humanidade, onde tudo é de todos, da não-propriedade privada, onde as terras são cultivadas em comum, o princípio da não-autoridade, ou seja, da liberdade e autonomia como princípio, do desenvolvimento livre da ciência e das artes para todos, da produção conforme a possibilidade de cada um e o consumo conforme a necessidade. Por outro lado, acreditamos ser possível encontrar práticas na atualidade que se aproximam destes ideais como as vivenciadas pelas comunidades indígenas.


Existe até mesmo comprovação da existência de outras comunidades no Brasil como pode-se verificar pela pesquisa realizada por Eduardo Roberto Mendes e Rosemeire Aparecida de Almeida junto aos Yubas ( Comunidade Rural Yuba em Mirandópolis – São Paulo) – Revista NERA – ANO 10,N. 11 – JULHO/DEZEMBRO de 2007.

Por sua vez, a continuação e/ou aperfeiçoamento destas comunidades rumo a uma maior igualdade, portanto a superação dos “privilégios” de alguns de seus membros, depende de tempo para que os exemplos dos voluntários convençam pelo apelo moral os mais reticentes (como pensava Kropotkin), entendemos que é preciso também maior diálogo principalmente a respeito deste assunto que nos pareceu ser tratado como “tabu”. Pois, a continuidade das desigualdades pode agravar-se e, com isso, a vida comunitária, em cooperação mútua, dará lugar ao individualismo.
Atualmente vivemos num sistema que venera o individualismo em meio a graves problemas sociais e ambientais, neste cenário as obras de Kropotkin tornam-se atuais, pois elas falam de uma nova sociedade e já podemos vê-la em prática entre os Yubas. Isso contribui para pensarmos e lutarmos por estes ideais comunitários em que o individualismo, o consumo de futilidades, a super produção e o trabalho abstrato não tenham o foco central, mas, sim, o trabalho prazeroso, a arte e o consumo conforme as necessidades individuais de cada um, tendo como base a educação e a ajuda mútua.

*Professora Universitária e Diretora Presidenta do Movimento Educacionista do Brasil -MEB