sexta-feira, 6 de agosto de 2010

30% de professores do estado já sofreram agressão

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Policial

Cerca de 30% dos professores da rede pública estadual já foram agredidos, física e verbalmente, por alunos dentro e fora das salas de aulas, de acordo com dados da Associação dos Professores de Licenciatura Plena da Paraíba (APLP-PB). Os casos de violência nas escolas públicas e privadas envolvem ainda casos de estudantes que se voltam contra os próprios colegas, em atitudes explícitas de bullying. Somente o Conselho Tutelar Norte de João Pessoa já registrou mais de 20 denúncias nos últimos dois meses. De acordo com dados do Departamento de Estatística do Centro Integrado de Operações Policiais (Ciop), nos últimos dois anos foram registrados 1.094 casos de violência nas escolas.

De acordo com os dados fornecidos pela coordenadora do Departamento de Estatística do Ciop, major Valtânia Ferreira, dos anos de 2008 e 2009, a violência se concentra em apenas 5,83% do Estado, ou seja, em 13 municípios. Destaque para os casos de uso de drogas nas escolas que saltou de 8 ocorrências, em 2008, para 16 em 2009. Um aumento de 100%. Os casos de porte ilegal de arma também aumentaram. No ano passado foram três casos, um a mais que em 2008.

Os municípios onde foram registrados casos de violência nos últimos dois anos foram João Pessoa, Bayeux, Santa Rita, Cabedelo, Conde, Fagundes, Guarabira, Queimadas, Campina Grande, Patos, Sousa, Cajazeiras e Lagoa de Roça. A maior parte das ocorrências se passaram na região metropolitana de João Pessoa. A major Valtânia Ferreira da Silva explicou que nem todos os casos confirmados por uma equipe policial se tornam procedimentos porque nem todas as vítimas registram queixa policial.

Ministério Público também registra queixas
As promotorias da Educação e da Infância e Juventude também registram queixas da mesma situação, mas só entram no caso quando a situação ultrapassa os muros da unidade. A promotora da Infância e Juventude da Capital, Soraya Escorel, revelou que atende uma média de três casos de violência dentro das escolas por mês.

Ela acredita que o baixo número de denúncias esteja relacionado ao acobertamento de muitos casos pela própria direção da escola e famílias dos envolvidos, principalmente quando os atos ocorrem em unidades particulares. “A violência escolar está em todas as unidades, independente da classe sócio-econômica do aluno, o que acontece é que na escola particular, o caso é abafado, para não gerar burburinho negativo contra os envolvidos”, explicou.

Segundo o secretário geral da APLP-PB, Fernando Lira, as principais causas da violência dentro das escolas é a desestruturação familiar que acompanha o histórico dos estudantes, independente das condições financeiras de cada um. “Muitos alunos já vêm estressados de casa e acabam descontando isso nos colegas, nos professores, funcionários, enfim, em quem encontra pela frente. A falta de amor, de carinho e atenção pode gerar revolta e agressividade, que é externada de forma negativa, através de palavras e ações violentas, que humilham e maltratam as pessoas”, falou.

A Promotoria da Educação de João Pessoa, criada recentemente, também recebe denúncias de casos de violência envolvendo crianças e adolescentes dentro do âmbito escolar. Segundo a promotora, Fabiana Lobo, além das ações de bullying, há ainda relatos de vandalismo contra o patrimônio das escolas, que ocorre principalmente na rede pública. “As escolas devem trabalhar essa conscientização e orientação dos alunos, envolvendo também os pais e responsáveis, para que o foco do problema seja encontrado e solucionado da melhor forma”, explicou.

Atividades educativas
As principais queixas recebidas pelos conselhos tutelares são relacionadas a agressões físicas e verbais, características de bullying, entre alunos ou de atos violentos destes contra professores. Segundo o conselheiro tutelar da Região Norte, Elielton Lima, para combater esse tipo de ação, as escolas devem trabalhar o incentivo à cultura de paz, através de atividades escolares temáticas. Para o conselheiro da Região Mangabeira, Vinícius Fernandes, as escolas devem intensificar as ações educativas para evitar a ocorrência de novos casos.
“Quando somos contatados

por estas escolas, procuramos entender o que leva os alunos a agirem de forma tão violenta contra colegas e professores, que são os principais alvos das agressões e, a partir disso, discutimos isso com todos os envolvidos. Realizamos palestras para os alunos, explicando as conseqüências de atos violentos e procuramos incutir na mentalidade destes que agir com violência não resolve nada. Este mês, já visitamos 10 unidades na Capital”, disse Elielton.

Para Vinícius, as escolas podem solicitar visitas e palestras aos conselhos tutelares, em situações de risco como casos de violência. Ele pede que as diretorias das escolas realizem atividades preventivas entre seus alunos, com ações dentro e fora de sala de aula, para reforçar a criação de uma cultura de paz. “Muitos estudantes agem de forma agressiva na escola por conflitos dentro de casa, que podem ser solucionados se os pais iniciarem a prevenção em casa, através de um diálogo franco e amoroso”, falou.

Segundo a conselheira tutelar da Região Sudeste, Sandra Rodrigues, normalmente, as escolas pedem a presença da equipe do Conselho Tutelar para palestras de conscientização, em uma ação mais preventiva. Ela não soube precisar a quantidade de denúncias recebidas, mas disse que os atos mais graves são encaminhados para o Ministério Público da Paraíba (MPPB).

Audiência com SEEC
O presidente do Sindicato dos Professores da Rede Pública da Paraíba, Antônio Arruda, disse que a entidade já solicitou a realização de uma audiência com o secretário Sales Gaudêncio, para discutir a questão da violência nas escolas. Ele falou ainda que há muitos casos graves ocorrendo em todo o Estado, mas que a maioria não é denunciada porque os próprios professores têm medo. Ele citou o caso de um aluno que atirou contra um educador dentro de sala de aula em Campina Grande e da professora de uma escola particular de João Pessoa que foi ameaçada com um tênis.

“Muitas vezes, os professores têm medo de denunciarem os casos e sofrerem represálias dos estudantes agressores, na rede pública. Se o caso é na rede privada, o medo é de perder o emprego. Já recebemos o caso de um aluno que tirou o tênis em sala de aula e ameaçou jogar na cabeça da professora, que não denunciou por medo de perder o emprego, já que o menino era filho de pessoas influentes. Sem contar os casos de violência emocional contra os colegas mais frágeis, atitudes de bullying que comprometem o desenvolvimento escolar da vítima. Protocolamos um pedido de audiência com o secretário de Educação na semana passada e estamos aguardando essa reunião”, falou Antônio.

Alessandra Bernardo e Marcelo Rodrigo

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